Adaptar a alimentação às necessidades específicas de cada fase da vida pode melhorar a depressão e aumentar o desejo sexual. Também é essencial para viver mais e melhor.
Até os 30 anos, nosso corpo é feito para funcionar a pleno vapor. A partir dessa idade, por causa das oscilações hormonais, ficamos mais suscetíveis a uma serie de desequilíbrios, entre eles a depressão, a perda de libido e o envelhecimento precoce.
Fazer alguns ajustes na alimentação pode amenizar -e às vezes curar- alguns desses problemas, acreditam muitos especialistas. Estudo feito recentemente pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostra que incluir ou eliminar alimentos estratégicos pode ser uma atitude transformadora em muitos casos.
Para o endocrinologista Alfred Cury, as mudanças na alimentação podem afetar diretamente a produção de diversos hormônios. ”Quando há uma redução drástica no consumo de proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas ou minerais, pode haver uma deficiência na produção de certas substâncias pelo corpo. Os desequilíbrios demoram a aparecer porque nosso organismo possui reservas “, explica o médico.
Tudo o que comemos influencia diretamente em nossas reações orgânicas, afirma Dr. Cury. O consumo excessivo de substâncias estimulantes, como a cafeína, aumenta os batimentos cardíacos e a sudorese, interfere no sono e na produção dos sucos gástricos, o que pode causar azia e gastrite. Outros alimentos, ao contrário, criam uma sensação de prazer e relaxamento, entre eles aveia, leite integral, banana, chocolate, pães e massas.
Alimentos promovem bem-estar
A nutricionista Paula Riccioppo, afirma que a relação entre a alimentação e alguns distúrbios, como a depressão, vem sendo estudada mais profundamente nos últimos anos. Segundo ela, “ várias funções cerebrais dependem de um balanço adequado de nutrientes “. De acordo com a especialista, 35% dos pacientes deprimidos têm deficiências vitamínicas, geralmente de ácido fólico.
Para funcionar com todo nosso potencia, precisamos, portanto, alimentar o cérebro. Entre os nutrientes mais importantes estão a vitamina B1, que ajuda na memória e na cognição e pode ser encontrada nas ervilhas, no feijão, no pão e nos cereais integrais, em peixes e no amendoim ; a vitamina B6 que converte o triptofano em serotonina, o hormônio do bem-estar, presente na aveia, banana, leite e ovos; a vitamina B12, contida nas folhas verde-escuras e em frutas secas, que atua na transmissão dos impulsos nervosos; o ômega 3, que reduz vários sintomas depressivos está no espinafre, no óleo de soja, no peixe e na linhaça; e o tripofano, que pode ser encontrado no leite, na banana e no chocolate.
O Dr. Alfredo Cury sugere restringir alimentos à base de cola, café, chá-verde, guaraná e mate que, em algumas pessoas, podem aumentar a ansiedade e a sensação de pânico. “ A cafeína contida nessas bebidas age como um antagônico da serotonina. Ou seja, elas acabam não permitindo a produção do hormônio do bem-estar”, esclarece.
Dieta saudável desperta libido
Se a relação entre o alimento e depressão já é conhecida, poucos estudos comprovam que o que nos ingerimos pode aumentar ou diminuir o desejo sexual. Pela experiência prática, os especialistas afirmam que é possível, sim, mexer na libido mudando a dieta. Um dos alimentos mais populares nesse quesito é o chocolate, principalmente o amargo, que aumenta a produção de serotonina, melhorando o humor e provocando sensação de prazer e bem-estar.
Os alimentos ricos em arginina, espécie de Viagra natural encontrada nos cereais integrais e nas oleaginosas, promovem um aumento na circulação sanguínea e também podem aumentar o desejo. Já as vitaminas como a B3 (niacina) e a E, aumentam a produção de testosterona e estimulam o fluxo sanguíneo para os órgãos sexuais.
“Muitas frutas, consumidas regularmente, também podem ser consideradas afrodisíacas como abacate, banana, coco, romã, maça, pera e uva. A banana, por exemplo É rica em magnésio, que auxilia a produção de serotonina, e também melhora a circulação. já alimentos picantes aumentam a frequência cardíaca e estimulam a sudorese, semelhantes as reações provocadas pelo sexo”, explica Paula Riccioppo.
O endocrinologista Tércio Rocha gosta de incluir alguns alimentos que concentram muitos nutrientes no cardápio de quem está com a libido em baixa, como graviola, açaí, cogumelos, algas marinhas, água de coco, gengibre, pimenta, canela e cúrcuma. Entre os suplementos, ele recomenda resveratrol , poderoso antioxidante encontrado no vinho e na uva; a coenzima Q10, outro antioxidante que protege diversos órgãos; e o tribulus e o Epimedium icarinii, duas ervas que agem como estimulantes sexuais.
Segundo o especialista, para aumentar a libido, talvez mais importante do que incluir certos alimentos seja cortar alguns do cardápio. Os pratos que prejudicam a digestão, as frituras, doces e carnes que pelo alto conteúdo de gordura, dificultam a circulação sanguínea devem ser consumidos apenas eventualmente. Aqueles que causam flatulência, como couve, repolho, couve-flor e leguminosas, como feijão, devem ser ingeridos com moderação.
Mais equilíbrio na menopausa
As ondas de calor, o ressecamento vaginal, os suores noturnos e a insônia que costumam surgir nas mulheres entre 45e 55 anos trazem não só mudanças físicas, como emocionais. Embora algumas possam se beneficiar da reposição hormonal, aquelas que fazem mudanças na alimentação podem ter uma transição mais fácil na menopausa. “O ideal é não esperar até meia-idade para adotar uma alimentação equilibrada, mas fazer isso ao longo da vida”, diz Paula Riccioppo.
Para evitar as oscilações de humor, ela indica aveia, pão, massa e cereais integrais, banana, verduras de folhas verdes, castanha-do-pará, chocolate amargo, erva-cidreira em forma de chá ou tempero, frango, inhame, lentilha, manjericão, óleo de nozes e sementes. Peixes como sardinha, salmão e cavala, ricos em ômega 3, também são ótimos aliados.
“Esse nutriente protege contra doenças cardíacas, mantém a saúde o intestino e alivia as ondas de calor”, ensina.
A isoflavona, encontrada na soja, é uma substancia que funciona de forma semelhante ao e estrogênio e pode ajudar a diminuir as ondas de calor e a retardar a osteoporose. Nesta fase, o cálcio torna-se fundamental, assim como a vitamina D. Além de melhorar o humor, eles auxiliam no equilíbrio hormonal.
“O ideal é pensar na alimentação como uma terapia preventiva e começar desde cedo. Uma dieta balanceada pode ajudar a evitar o aparecimento de vários males.” Conclui a nutricionista.
Seja qual for a época da vida, uma alimentação rica em nutrientes é a melhor maneira de manter corpo e mente em equilíbrio.
Revista Les Nouvelles Esthétiques
Edição n°:127
Ano: XXII